sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ode ao transgressor

Queriam-me casado e tributável, de terno e gravata dentro de um escritório como sardinha em lata ao molho de burocracia. Não queriam a mim. Queriam a minha alma, o meu trabalho, a minha produção. Mas não me vendo! E acreditava que a humanidade teria dignidade para não se vender também.


Fui exilado em meu próprio lar. Olho ao meu redor e não há nada humano. Vejo pernas, braços, cabeças. Corpos vazios e automatizados. - Quando será que a minha bateria acabará?

A dor e o pranto parecem mais típicos do que a alegria. Crianças chorando. Homens feridos. Tudo é observado de forma pacifica, sem comoção e sem revolta. Espectadores da própria destruição. É isso que somos nós.

E há quem diga que progredimos cem anos; mas para mim, retrocedemos um século.

Progressos científicos. Decodificam o DNA. Criam clones. Explicam terremotos. Tudo em vão. Não estou dizendo que avanços tecno-cientificos são desperdício de tempo. Todavia, eles não são os únicos avanços necessários. Ainda existem epidemias e doenças sem cura. Os terremotos ainda devastam grandes áreas. Pessoas falecem. E não podemos interpretar isso como “menos uma boca para ser alimentada”.

Minha fé nesta Terra cada vez é mais escassa, talvez ela seja assim, por não ter companheiras. Não há mais fé. Não há mais essência. Não há mais nada. Há o que não há.

Transgressores: uma ilha de esperança num mar de amargura. Os únicos que pensam, que não se vendem, que não traem a si próprios. Têm um ideal e o seguem. Não se alienam. São livres.

Talvez até sejam vistos como patológicos. Mas eles não aceitam assinar um contrato com uma sociedade que não respeita suas próprias leis.

Que beirem o anarquismo, que sejam amigos da loucura, que escrevam odes aos paleolíticos. Anarquismo de quem não precisa ser submisso as ordens de um governo para se desenvolver. Loucura daqueles que questionam o questionar. E ode aos paleolíticos que tinham a liberdade, o trabalho e a terra. Não se fixavam pois tinham o mundo. Não exploravam até que acabasse eternamente. Trabalhavam para si, e não para vender sua dignidade. Matavam e caçavam só o que precisavam. E eram poetas.

Sim! Poetas! Poetas, porque poetizar é fazer com destreza, com perfeição. E uma vida de liberdade e igualdade é construída aos poucos como uma obra de arte. A vida se torna o quadro, a escultura, a melodia, a dança, o infinito restrito a um tempo pequeno.

Aqueles que têm lucidez porque sabem discernir da loucura. Aqueles que sabem que o céu é azul e não querem vê-lo vermelho. Aqueles que têm sonhos e não os sucumbem as vontades externas. Aqueles que são transgressores, que sejam sempre, e que não se deixe calar nem no ultimo instante.

Carolina Souza